Uma criatura abandonada por Deus...
...mas não realmente.
Chegamos ao destino esperado para fazer um passeio pela natureza, apanhar figos da árvore e saborear o sol e os sons naturais do nosso entorno. No entanto, ficamos bastante chocados com o que encontramos quando estacionamos Aya, a nossa carrinha. A visão do que parecia ser uma criatura abandonada por Deus era lamentável e falou directamente ao meu coração. Os meus olhos encheram~se de tristeza. Trilho, como o chamávamos (Path), tinha principalmente pêlo do pescoço até ao rosto. O resto do seu corpo estava nu, com alguns tufos de pêlos aqui e ali. Notavelmente, ele esteve acorrentado a maior parte da sua vida e criou calo em algumas áreas do seu corpo por estar sentado e deitado por um longo tempo. Os seus músculos estavam fracos. Os seus olhos carregavam tanta tristeza e apatia. Mas gentileza também. Suavidade. Encanto. E fome. Era impossível dizer a idade do Trilho. Um corpo de velho e um rosto de jovem.
Pedro ficou com ele e eu apressei~me para casa para buscar comida e água para o Trilho.
Pedro ligou entretanto a dizer~me que o Trilho tinha comido banana. Banana! Abençoado o seu querido coração!
Deixamos o Trilho a comer e a beber e seguimos para a nossa caminhada. Telafonamos para algumas organizações animais para que o Trilho fosse resgatado e cuidado, mas não tivemos sorte. Era um sábado. Então, telefonamos para a polícia, e eles disseram que iriam levá~lo para o canil da cidade por enquanto. Esperávamos então ligar para uma organização animal para que eles pudessem fazer a ligação entre eles e o canil para que o canil liberasse o Trilho para eles. A polícia disse que viriam recolher o Trilho.
Quando voltamos da caminhada, o Trilho ainda estava lá. Ele tinha comido toda a comida que lhe demos. Era tanta comida... A polícia nunca veio e nós suspiramos aliviados. Nós entendemos que o Trilho poderia ficar onde estava, no lugar que ele conhceia como casa até segunda~feira. Não poderíamos levá~lo para casa connosco, pois temos dois cães e acabamos de resgatar a nossa quarta felina na semana passada, Hinna.
Demos carinho e amor ao Trilho e voltamos para casa em prantos. Trilho olhou para nós até que ele era apenas um pequeno ponto preto à distância.
Pedro voltou ao encontro do Trilho e levou mais comida e mais água e uma toalha para ele descansar. Trilho não comeu, contentou~se com toda a comida que comeu antes. Isso foi reconfortante.
Espero que quando ligarmos na segunda~feira, os socorristas venham buscá~lo. E que ele tenha uma chance na vida. Uma chance diferente do que tem sido a sua experiência dolorosa.
O meu coração comove~se com a forma como a dor, a tortura e o engano não quebraram a capacidade do Trilho de confiar e amar. Embora ele estivesse reluctante em confiar no início na sua maneira gentil, durante a nossa curta interação, ele permitiu~se ser tocado e amado. O maltrato de um humano não o endureceu. Eu curvo~me perante o Trilho, solenemente.
Vamos ver o Trilho hoje, domingo.
Vamos ver o Trilho amanhã, segunda~feira.
O que não endureceu o Trilho, faz~me amá~lo mais. Faz~me amar mais os animais. O gesto e a dedicação do Pedro, faz~me amá~lo e apreciá~lo ainda mais.
Espero um “feliz para sempre” para o Trilho.
~~Ana~~
Post Scriptum~As associações animais não apareceram, e oTrilho, passados 4 dias de o estarmos a acompanhar, desapareceu. Bem hajas, Trilho.
Podemos pensar que fazer pouco por alguém, é fazer nada. Mas nunca é. Pouco, pode ser tudo, por um momento.
A God forsaken creature….
...but not really.
We arrived at our expected destination to indulge in a nature walk, pick figs from its tree and relish in the sun and in the natural sounds of our surroundings. We were however quite shocked by what we met as we parked Aya, our car. The sight of what felt like a God forsaken creature was pitiful and it spoke to my heart directly. My eyes welled from sorrow. Trilho, as we called him (Path), had mostly fur from his neck towards his face. The rest of his body was naked, with some fur here and there. Noticeably, he had been chained for most of his life and he had grown calluses in some areas of his body from seating and laying for a long time. His muscles were weak. His eyes carried so much sadness and apathy. But kindness too. Softness. Loveliness. And hunger. It was impossible to tell Path’s age. An old dog’s body and a young dog’s face.
Pedro stayed with him and I rushed home to get food and water for Path.
Pedro rang in the meantime telling me he had eaten banana. Banana! Bless his dear heart.
We then left Path eating and drinking and we went on for our walk. We called a few animal organizations to have Path rescued and be cared for but we had no luck. It was a Saturday. So, we called the police, and they said they would take him to the city’s kennel for the time being. We were hoping to then call an organization so they could liaise between them for the kennel to release Path to them. The police said they would come to collect Trilho.
When we returned from the walk, Path was still there. He had eaten all the food we gave him. It was so much food… The police never came and we sighed with relieved. We understood Path could stay where he was and knew as home until Monday. We would not be able to take him home with us as we have two dogs and we just rescued our 4th feline last week, Hinna.
We gave Path affection and love and we returned home tearfully. Path stared at us until he was just a little black dot in the distance.
Pedro went back to Path and took him more food and more water and a towel for him to rest on. Path did not eat, he was content with all the food he ate before. That was reassuring.
I am hoping that when we call on Monday, rescuers will come for him. And that he is given a chance in life. A different chance from what has been his sore experience.
My heart is moved by how pain, torture, and deceit did not break Path’s ability to trust and love. Although he was reluctant to trust at first in his kind way, during our short interaction, he allowed himself to be touched and loved. A human’s mistreat did not harden him. I bow to him, solemnly.
We will go check on Path today, Sunday.
We will go check on Path tomorrow, Monday.
What did not harden Path, makes me love him more. Makes me love Animals more so. Pedro’s gesture and dedication, makes me love him and appreciate him even more.
I hope for a “Happily ever after” for Path.
~~ Ana ~~
Post Scriptum~The animal associations never showed up, and 4 days into accompanying him, Path vanished. God bless Path.
WE may think that doing little for someone, is nothing. But it never is. Little may be everything, for a moment.
Comments