top of page

Um desabafo

Houve um tempo em que eu corria despreocupada.

Descalça, raramente sozinha.

O “fora das portas” era a minha área de lazer, a minha área de viver.

A minha mãe gritava o meu nome da janela,

chamando para uma refeição. Isso é quando ela me via.

Ela sabia que eu estava muito ocupada a saltar à corda e a jogar as dezenas de jogos que conhecíamos.

Haviam risos penetrantes, alegria, euforia,

choros por cairmos,

oh Deus, houve felicidade.

Ao crepúsculo eu estava exausta, infundida de vida.

Eu sei agora, fui agraciada com maravilha.


Onde estão as crianças hoje?

Onde elas brincam em grande número?

Voltei ao meu bairro.

Olhei pela janela e não vi nenhuma. Nenhuma.

Sem gritos altos, sem risos, sem excitação,

a área de viver estava silenciosa,

apenas a vida das árvores que cresceram tanto desde então.

Claro que me sinto triste por dentro. Eu sinto~me além de triste.

Demasiadas crianças andam pela terra com sapatos calçados.

Muitas delas brincam dentro de paredes de concreto.

Tantas estão sozinhas.

Elas olham para os ecrãs.

Quase não há vida nisso.

Eu gostaria que eles conhecessem a liberdade diária que eu conheci.

~~ Ana~~



An outburst

There was a time when i ran carefree. Barefoot, seldom alone.

The “out of the doors” was my play area, my living area.

My mother would yell my name from the window,

calling me for a meal. That is when she would see me.

She knew I was way busy jumping rope, and playing the dozens of games we knew.

There was ear piercing laughter, joy, exhilaration,

crying from falling,

oh God, there was bliss.

By twilight I was worn out, infused with life.

I know now, I was graced with freedom and wonder.


Where are the children today?

Where do they play in great numbers?

I went back to my neighbourhood.

I looked out the window and I saw none. None.

No loud screaming, no laughter, no excitement,

the living area was silent,

only the life of the trees that grew so tall since then.

Sure I feel sad inside. I feel beyond sad.

To many children walk the earth with shoes on.

To many of them play inside concrete walls.

Way too many are alone.

They stare at screens.

There is barely life in that.

How I wish they knew the daily freedom I once knew.

~~ Ana~~

Comments


bottom of page